Whatsapp Logo Quadrado Whatsapp Logo Quadrado

Notícias

Classe contábil lamenta a morte do professor Lopes de Sá.

A morte do contador Antônio Lopes de Sá, segunda-feira, 7 de junho, em Belo Horizonte, provocou manifestações de pesar de muitos contabilistas brasileiros. Estudantes, professores e profissionais da contabilidade, em atuação, todos conheciam o homem que para uns foi um grande mestre, para outros um pesquisador incansável e um gênio.

?Perdemos uma das inteligências mais brilhantes da contabilidade, no século XX e começo deste, um exemplo inigualável de sabedoria, dignidade, humanidade, ética e paixão pela profissão contábil?, exclama o presidente do CRCPR, Paulo Caetano. ?O Brasil perde com o intelectual, um filósofo e historiador respeitado. A Contabilidade é debitada de um dos seus mais fecundos cientistas. Os fóruns contábeis nacionais e de boa parte do mundo perdem o brilho de um tão aplaudido, quanto querido, mestre. Na centena de livros e milhares de artigos publicados; nos trabalhos impregnados pela marca do seu gênio; deixa-nos o pranteado líder e criador de doutrinas um patrimônio de valor inestimável; para ser explorado e levado a crédito das futuras gerações de profissionais da Contabilidade, exalta o presidente do CFC, Juarez Domingues Carneiro.

Marcos Garcia assim descreve Lopes de Sá: ?Grande mestre, sem conhecer quantas foram as pessoas que influenciou com suas obras. Sempre faço a afirmação que não conheço ninguém mais apaixonado pela contabilidade do que eu, exceto o Papa, Gênio, Mestre, Iluminado, Professor Antonio Lopes de Sá, pois nunca consegui descobrir um título que demonstre a grandeza de tal pessoa. Perdemos o maior produtor de obras e artigos contábeis do Brasil.

Bruno Rocha Cesar Fernandes exalta: ?Me sinto melhor por ter conhecido esse vulto que transpirava sabedoria, em uma sílaba que fosse, com humildade e carinho, próprio aos raros seres humanos que atingem a plenitude em coração, alma e mente?. ?Perdemos um ícone mas fica seu legado e a responsabilidade de defender os princípios que norteiam a contabilidade?, afirma Gladenir Goersch Andrades. Luiz Augusto, da editora Juruá, depõe: ?Convivi com o prof. Lopes de Sá de uma maneira bem próxima durante cinco anos. Tivemos o privilégio de publicar suas últimas 13 obras, sendo a derradeira lançada há apenas um mês. Com certeza vai fazer muita falta não somente como profissional mas em especial como exemplo de cidadão, comprometido com as pessoas, independentemente de sua posição social e com a propagação do conhecimento?.

No artigo ?Antonio Lopes de Sá: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce?, o português Manuel Benavente traça um perfil mais detalhado do mestre: ?O Professor Antônio Lopes de Sá é uma daquelas personalidades singulares que aparece de geração em geração e das quais sentimos orgulho em ser discípulos e amigos.

Com mais de 150 obras escritas, milhares de artigos difundidos pelos mais diversos meios de comunicação, nas mais variadas latitudes, constitui um exemplo de como Deus é imenso, e a vida, a grande aposta que temos o direito e o dever de jogar.

Simples e solícito, mas profundamente analítico, apaixonado e empreendedor, sempre disposto a ajudar e com uma fraterna disponibilidade do tamanho do mundo, eis o Professor António Lopes de Sá grande amigo, grande cientista da Contabilidade e grande intelectual da cultura luso-brasileira.

Nascido em Belo Horizonte no Estado de Minas Gerais, em 9 de Abril de 1927, seu pai era português da Beira Alta e sua mãe de ascendência hispano-italiana. Sublinhe-se que seus avós maternos tinham sido fundadores da cidade de Minas em 1897.

Tendo perdido o pai com apenas três anos de idade, começa a trabalhar muito cedo na oficina do avô, latoeiro de profissão. Aos catorze anos já trabalhava como auxiliar de contabilidade. Tendo uma grande vocação para as ciências - Química, Física e Matemática -, segue porém Contabilidade porque era o único curso noturno que poderia frequentar, após abandonar a "sua amada" Química, devido a dificuldades financeiras.

Sua mãe - professora de artes -, terá que emancipá-lo aos dezessete anos de idade, para que possa lecionar as primeiras classes da escola que então frequentava. Com dezoito anos apenas, deixa o emprego e gere o seu próprio negócio, instalando-se com um escritório de contabilidade. E é aqui, nesta área do conhecimento, que vai fazer a sua aposta de vida, num misto de amor, profissionalismo e cultura.

Aos 23 anos entretanto, começa a corresponder-se com o grande Federigo Melis, pilar da Contabilidade na Itália, no dizer de Lopes de Sá, grande inteligência e espírito forte. Em 1951 já assina artigos na Revista Paulista de Contabilidade, de São Paulo.

Nos domínios da História da Contabilidade, começa por escrever em 1963 com o seu amigo Melis - um dos maiores historiadores de Contabilidade da Itália - o trabalho intitulado "Os banqueiros florentinos e a descoberta do Brasil". Sublinhe-se que aqui desenvolve a tese de que o Brasil já estaria descoberto pelos portugueses no século XV, com a intervenção dos banqueiros de Florença. Na atividade de pesquisa sobre a riqueza das células sociais derivou seis teorias as quais concluem que "... só a eficácia das células sociais pode, em somatória, resultar no bem-estar da sociedade humana."

Possuidor de mais de trinta teoremas e axiomas científicos contabilísticos, doutor em ciências contábeis pela Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil, do Rio de Janeiro em 1964 -, nível superior máximo -, investigador eminente, docente respeitado, publicista e conferencista brilhante, pertence a um sem-número de academias, colégios e institutos espalhados pelo mundo, que atestam toda uma vida dedicada à ciência da Contabilidade.

Detentor, desde 1985, da medalha de ouro João Lyra - maior título contábil que se atribui no Brasil -, comendador, representante do Presidente da República do Brasil no Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas em 1980, em Genebra. Homem de hábitos simples no cotidiano, levanta-se às quatro horas da manhã, deitando-se cerca das vinte e três horas, residindo o segredo da sua produtividade, segundo diz, no método que tem para usar o tempo.

Casado com a professora e pedagoga, Édila Márcia, tem três filhos do primeiro casamento - Ana Maria, Marco Antônio e Tereza Cristina. Tem ainda nove netos, trabalhando já um deles, advogado, no escritório do avô.

Apreciador de culinária, não perde a oportunidade de confeccionar acepipes, segundo diz talvez como que um ato falhado do seu inconsciente, "... das combinações químicas que eu fazia e que frustradas ficaram".

Nas doutrinas contábeis aceita o "patrimonialismo como base, pela sua maior condição lógica", abraçando o patrimonialismo de Masi, Lopes de Amorim e D?Auria e é hoje, segundo as suas próprias palavras, um neopatrimonialista.

Ensina-nos enfim este grande mestre que erudição e cultura devem ser duas faces da mesma moeda, fazendo-nos refletir sobre a imagem tremendamente redutora que às vezes a Contabilidade ainda hoje tem. Porque a Ciência da Contabilidade não se pode reduzir ao quotidiano microcosmo técnico do débito e do crédito. Porque enquanto as técnicas estão ao serviço de outras técnicas e ciências, as ciências estão diretamente a serviço do homem?.