O I Congresso Profissional e Acadêmico em Contabilidade do Paraná (CPAC.PR), que aconteceu entre os dias 9 e 11 de outubro, na sede do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná (CRCPR), reuniu 117 participantes, entre profissionais da contabilidade, professores e estudantes de Ciências Contábeis para um evento inovador no estado, com o objetivo de debater aspectos referentes às vertentes do desenvolvimento profissional e acadêmico em contabilidade, bem como divulgar a produção técnico-científica da área e disponibilizar um canal para debate com profissionais e acadêmicos. Organizado em parceria com a Academia de Ciências Contábeis do Paraná (ACCPR), o evento contou pontos para o Programa de Educação Profissional Continuada (PEPC) do Conselho Federal de Contabilidade (CFC).
Palestras
Grandes nomes do mercado trouxeram palestras técnicas e atuais para a discussão, como Marcelo Cavalcanti Almeida, conselheiro do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) que, no dia 9, ministrou a palestra de abertura “Práticas Contábeis Adotadas no Brasil”. Ele falou sobre o histórico de órgãos que regulam as normas de contabilidade, o processo de emissão da norma contábil, o conteúdo do International Financial Reporting Standards (IFRS), a adoção do IFRS no Brasil e no mundo, como funciona o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), normas contábeis para pequenas e médias empresas e as novas normas contábeis.
Depois, no dia 10, foi a vez de Arthur Mendes Lobo, doutor em Direito das Relações Sociais, professor adjunto da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e também membro das Comissões da OAB/PR em Direito Empresarial, Advogados Corporativos e Estudos sobre Recuperação Judicial e Falências. Lobo falou sobre “A Responsabilidade Civil do Contador na visão dos Tribunais”, explicando à plateia sobre os conceitos de responsabilidade civil, os limites de responsabilização ao profissional da contabilidade por perda ou dano e os cuidados a serem tomados no exercício da profissão para mitigar esses riscos. “O contador está exposto a riscos de responsabilidade civil e precisa tomar precauções como, por exemplo, desenvolver contratos que realmente expressem o relacionamento comercial entre as partes, ao invés de utilizar contratos prontos”, explicou Lobo.
Encerrando o circuito de palestras, no dia 11, Clovis Luís Padovezze, doutor em Contabilidade, professor, controller e consultor contábil e financeiro de empresas de grande porte há mais de 30 anos, membro do Conselho Fiscal da Fundação Romi e que já integrou o Comitê de Normas Contábeis do CFC, falou sobre "A efetiva utilização da Contabilidade Gerencial nas organizações". Padovezze explicou os conceitos de contabilidade financeira e gerencial, e como extrair o melhor delas nas empresas. "Precisamos da contabilidade para o controle econômico das organizações e para isto é preciso que as informações disponibilizadas pela contabilidade sejam úteis para a tomada decisão, que é o foco da contabilidade gerencial. A contabilidade gerencial precisa de atitude dos contadores para que aconteça de forma organizada e seja efetiva. Ela não existe por si só, é preciso executá-la.", enfatizou Padovezze.
Workshops
Patrocinado por grandes empresas como Alterdata Software, Ernst Young, Grupo Editorial Nacional (GEN) e Thomson Reuters, o evento realizou diversos workshops. No dia 10, o evento iniciou com o workshop "Novos Conceitos sobre o Arrendamento Mercantil - IFRS 16", com o painelista Rogério Mota, sócio da empresa Deloitte. Ele iniciou a apresentação passando alguns conceitos básicos sobre o tema, alertando para o fato de que não são apenas os bens que estão sujeitos a serem enquadrados em contratos de arrendamentos, mas que em alguns casos, dependendo de como o serviço é prestado ou como o produto é fornecido, é preciso contar com uma análise mais profunda por parte do profissional contábil, para identificar como deve ser feito o enquadramento daquele determinado contrato. A moderação deste painel ficou por conta da professora Delci Grapégia dal Vesco, da Unioeste.
A seguir, o workshop “Atuação do Auditor perante as Startups” foi conduzido por Edson Rodriques da Costa e João Alberto Dias Panceri, que atuam na empresa de de auditoria KPMG, e moderado pelo professor Ruben Mendes Matos, da Universidade Tuiuti. Ao traçar um panorama sobre as startups paranaeses, Paceri apresentou dados que indicam que o Paraná é o quarto estado no ranking nacional de competitividade e ocupa a 2ª posição no Índice de Inovação dos Estados, publicado pela FIEP. Além disso, informou que, segundo pesquisa da Serasa Experian, é o 4º estado em número de empreendedores, contando atualmente com 502 startups mapeadas. O segmentos que apresentam maior número dessas empresas inovadoras e com negócios escaláveis são os de serviços financeiros (fintech), publicitários (adtech), educacionais (edtech), serviços em geral e agrosserviços (agtech). A seguir, foram abordados os principais desafios que o segmento apresenta aos profissionais contábeis.
No período da tarde, "Casos Complexos de Perícia Contábil", foram discutidos com o painelista Domingos Sávio Alves da Cunha, mestre em Contabilidade e Administração, perito criminal contábil aposentado pelo departamento de Polícia Federal e atualmente professor e perito judicial. Moderado por Alessandra Bischof, Cunha trouxe diversos exemplos e casos enfrentados ao longo dos anos e discutiu a complexidade de alguns deles. "Quando se trata por exemplo de dar valor a um artista que é único ou mesmo atribuir o valor à vida de alguém, não há cálculo simples. É preciso ter experiência e entender além", explicou o perito.
Na sexta-feira, dia 11 pela manhã, o workshop sobre "A Contabilidade da Indústria Paranaense", foi substituído pela apresentação do empresário Marcos Natividade, empreendedor serial, atual proprietário de uma empresa do segmento gráfico, que abordou o tema "O que o empresário espera do contador". A palestra mostrou aos participantes a visão do outro lado do balcão. Enquanto o profissional contábil dedica a maior parte do seu tempo e esforços ao atendimento das exigências burocráticas, fiscais e tributárias, o palestrante afirmou enfaticamente que ao contratar serviços contábeis, o empresário espera todo um suporte gerencial para o seu negócio, incluindo a entrega periódica e pontual dos demonstrativos contábeis, relatórios sobre guias e recolhimentos efetuados, uma correta execução das rotinas de departamento pessoal, mas acima de tudo análises mensais de DREs e indicadores de rentabilidade do negócio e, principalmente, assessoria gerencial para a tomada de decisões estratégicas e mitigação de riscos. A moderação deste workshop foi feita pelo professor Alessandro de Casto, da FIEP. Natividade
No segundo workshop do dia, Gustavo Nadalin, diretor executivo da Ernst Young, abordou as "Estratégias Anti-fraude", como moderação da coordenadora da Comissão dos Coordenadores de Curso e Professores de Ciências Contábeis, Melania Carnhelutti, da Unibrasil. Nadalin iniciou a palestra falando sobre uma pesquisa do professor de psicologia e economia comportamental americano Dan Ariely, que ensina na Universidade de Duke, sendo o fundador de The Center for Advanced Hindsight. Quando aconteceu o escândalo da Enron (2000), Ariely ficou muito espantado ao verificar o envolvimento nas fraudes contábeis de pessoas que ele conhecia e considerava acima de qualquer suspeita. O trabalho resultou no livro "A Mais Pura Verdade Sobre a Desonestidade", em que afirma categoricamente: todos nós somos desonestos. Segundo ele, por um lado, queremos nos enxergar como pessoas honestas e honradas, por outro, tanto quanto possível, queremos atender aos nossos interesses. A partir dessa premissa ele analisa atitudes antiéticas nas esferas pessoal, profissional e política, e mostra como esses comportamentos afetam a todos, mesmo aqueles que creem ser pautados por altos padrões morais. Ao transpor essa análise para o mundo corporativo, Nadalin citou uma pesquisa da Association of Certified Fraud Examiners – ACFE, segundo a qual 15% dos profissionais irão trapacear para alcançar seus objetivos. Outros 15% tendem a ser extremamente honestos e os 70% restantes terão seu comportamento influenciado pelo ambiente e pela situação. Assim, de acordo com o palestrante, é recomendável para as corporações investir nos 15% menos corruptíveis como embaixadores dos valores éticos e do compliance, a fim de influenciar positivamente os demais.
A seguir, relatou sua experiência como diretor jurídico de um grande time de futebol paranaense. "Quando foi trabalhar lá, encontrei o típico ambiente que permeia os bastidores do futebol brasileiro, com dirigentes ocupando cargos políticos e jogadores e empresários movimentando altas somas de dinheiro sem nenhum controle eficiente e só o trabalho do Departamento Jurídico não resolvia". Nadalin contou sua saga para quebrar esses paradigmas e disse que a virada aconteceu em 2015, quando aproveitou a renovação da diretoria do clube para implantar mecanismos antifraude e colocar em funcionamento programas de educação, fiscalização e sanção, o que considera um tripé fundamental para prevenir, bloquear e impedir a repetição de atos fraudulentos.
No período da tarde, concluindo os workshops do Congresso, a temática "Reconhecimento de Receitas - CPC 47- IFRS 15" foi moderada por Luis Fernando Conduta, da Universidade Positivo, e apresentada por Indiara Barbosa, gerente de Auditoria da Pricewaterhousecoopers (PWC). Indiara falou sobre as mudanças na norma, o passo a passo para o reconhecimento de receita, identificação de obrigações de desempenho e conceitos e alocação de preço de transação. Além disto, a palestrante abordou as questões de divulgação da IFRS 15 e enfatizou que todas as entidades foram impactadas pelos novos requisitos de divulgação do CPC 47 e que é necessário estar atento.
Apresentação de Artigos
Além disto, ao longo dos dias 10 e 11, o evento recebeu a apresentação de artigos da área de Contabilidade, segmentados em temáticas para usuários internos e externos. Os 23 artigos foram expostos em duas salas e contaram com discussões moderadas por professores universitários.
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No último dia, foram apresentados os melhores artigos selecionados. Na área de Contabilidade para Usuários Externos, os artigos: "Percepção dos Acadêmicos de Ciências Contábeis sobre a Disciplina de Contabilidade Pública" e "Evidenciação da Gestão de Riscos com Governança Corporativa e Desempenho em Empresas com ADRs". Na área de Contabilidade para Usuários Internos: "A Influência dos gestores na Cultura Organizacional e os Efeitos nos Sistemas de Controle Gerencial" e "As deficiências e as ações de Melhoria do Controle Interno: uma Visão Sistemática da Literatura".
Comissão Jovem CRCPR
Um dos propósitos do sistema CFC/CRCs é a integração de estudantes e jovens profissionais para conhecimento das potencialidades e oportunidades que a profissão contábil oferece. Por isto, o CRCPR criou, em maio de 2013, a Comissão do Jovem Contabilista e da Integração Estudantil do CRCPR, que tem o objetivo de promover a integração dos jovens profissionais da contabilidade e estudantes do curso de Ciências Contábeis do Estado do Paraná com o sistema CFC/CRCs, visando a conscientização de suas potencialidades, do valor do conhecimento científico e do papel que representa a classe contábil na sociedade.
Integram a Comissão: Daniella Novak (coordenadora), Guilherme Felipe Pelanda Pinto, Everson Luiz Lopes, Irineu Ader Lecheta Junior, e a funcionária do CRCPR, Sandra Ribeiro dos Santos Wolanski.
Saiba mais:
Noite de abertura do I CPAC.PR recebe palestra de Marcelo Cavalcanti Almeida