As bengaladas do escritor paranaense Yves Hublet não foram meramente simbólicas mas reais, todo mundo viu, e o cocoruto do então deputado José Dirceu certamente sentiu; mas o inusitado castigo ganhou conotação simbólica: quantos brasileiros não gostariam de descarregar sua indignação sobre os personagens das CPIs do Mensalão e dos Correios e sobre quantos mais que não honram o mandato de representantes do povo? Na impossibilidade de esses indignos homens públicos terem todos uma só cabeça, ao alcance de uma só bengala, sobrou para a do ex-todo poderoso ministro-chefe da Casa Civil.
A propósito de bengaladas cívicas, nós, contabilistas do Paraná, também perdemos a paciência e, num ímpeto de indignação, desferimos bordoadas na grande e dura cabeça do governo federal, no dia 30 de novembro, em Curitiba. Por coincidência, o cabeça esteve na cidade naquele dia e muito gostaríamos que ele tenha pelo menos sido informado sobre o nosso ataque. Saímos à rua para reclamar da falta de respeito da Receita Federal e do INSS com a população que recorre a seus serviços, enfrentando lentas e longas filas, a começar nas madrugadas. Sentimos de forma aguda esta indiferença porque, como representantes legais das empresas, diariamente vamos ao balcão desses órgãos cumprir obrigações fiscolegais, como retirar Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), recolher tributos, obter Certidão Negativa de Débito, mudança cadastral, informativo de faturamento, regularizar débitos, etc, etc. Além de não termos um bom atendimento, se errarmos uma vírgula em um relatório, corremos o risco de arcar com pesadas multas. Por outro lado, se o fisco erra, como fez recentemente, emitindo dezenas de milhares de autos de infração para débitos já pagos, temos que rebolar para provar a quitação.
A passeata foi um exercício de cidadania inédito e histórico para nós. Temos buscado outras formas de convencer o governo federal a modernizar os seus órgãos, desburocratizar, simplificar processos, atender bem. Chegamos a ingressar com duas ações judiciais contra a Receita Federal. Muita coisa pode ser viabilizada sem a necessidade de lei. Estamos assumindo um segundo mandato no CRCPR e esta é uma das linhas de ação à qual iremos dar continuidade. A sintonia do Conselho com a Receita Estadual do Paraná e com a prefeitura de Curitiba é uma demonstração de que muitos serviços podem ser oferecidos online. Tanto a Receita Federal quanto a Previdência possuem estrutura para melhorar seus sistemas. De nosso lado, estamos dispostos a assumir mais responsabilidades pelo acesso a campos privilegiados dos órgãos, por meio de senha e certificação digital.
Mauricio Fernando Cunha Smijtink
Presidente do CRCPR