:: Corrupção requer controle permanente

As CPIs em andamento no Congresso Nacional não têm propriamente a função de identificar as causas da corrupção e corrigir as distorções, mas investigar os acusados e puni-los, se houver confirmação de culpabilidade.
Os fatos que estão vindo à tona, por outro lado, são conseqüências de um sistema viciado e, particularmente, da relação imoral entre política e economia. Foi, indiscutivelmente, graças à generosidade oficial que as empresas de Marcos Valério expandiram a índices espantosos, durante esses poucos anos de governo amigo. E não que o presidente Lula tenha algo diretamente a ver, mas não pode também ser considerada um milagre a surpreendente ascensão de seu filho, Fábio Luís Lula da Silva, sócio majoritário de empresa cujo capital social saltou, em um ano, de R$ 100 mil, para R$ 5 milhões. Foi providencial a injeção da poderosa Telemar, empresa vinculada ao BNDES e a fundos de pensão de estatais.
Não significa que política e economia não possam andar juntas. Podem, mas não alimentando projetos exclusivistas, seja de uma elite que encontra facilidades para aumentar o seu patrimônio; seja de um partido que monta uma superestrutura para manter o poder, fazendo caixa-dois, estimulando o clientelismo, azeitando a máquina fisiológica com a distribuição de cargos de estatais e órgãos públicos de orçamentos milionários; e, se for comprovado, pagando mesadas a aliados.
Estamos em busca de uma relação política- economia capaz de beneficiar a todos os brasileiros - afinal, filhos da pátria amada. Que esse casamento favoreça a todos quanto a condições de crescimento material, social, cultural e quanto à representatividade real de cada um no palco do poder. É o nosso sonho democrático. De quebra, um sistema assim daria ao Congresso a dose de força que poucas vezes teve depois da ditadura. Ultimamente, a Câmara e o Senado, como de resto assembléias estaduais e câmaras municipais têm sido meros apêndices dos executivos.
Se, depois das CPIs, não forem tomadas medidas drásticas para anular as causas dessas distorções, mais adiante voltaremos a ter os mesmos problemas. Uma parte dessas causas pode ser bombardeada com moderna reforma político-administrativa; e a outra, com a adoção de mecanismos de controle permanente da corrupção.
Já defendi várias vezes e volto a fazê-lo: a contabilidade é uma ferramenta com vastos recursos à disposição da transparência na gestão pública e privada. Reclamei que nenhuma entidade contábil foi convidada a fazer parte do Conselho de Transparência Pública e Combate à Corrupção, lançado pelo governo. A essa altura, ainda bem! E como o tal conselho não saiu do papel, respirando aliviadas devem estar as entidades convidadas a compô-lo.

Mauricio Fernando Cunha Smijtink
Presidente do CRCPR

 
<< Voltar