:: Não se é político apenas em dado momento

Nos últimos anos, através das suas principais entidades, os contabilistas participaram de discussões e grupos de trabalho para elaboração de propostas, entre outras, da reforma tributária, da extensão do Simples às microempresas do setor de serviços, e de revisão do novo Código Civil.
Ao abrir espaço para a participação da sociedade civil, o Congresso Nacional e o governo federal criam a impressão de estarem ouvindo a sociedade. É apenas uma impressão. Os projetos aprovados, via de regra, estão longe de atender as reivindicações coletivas. Atendem sim os interesses das forças que comandam o poder político no momento. Não fosse essa a fria racionalidade, as desigualdades sociais do País não seriam tão gritantes?
Por que as propostas citadas, reconhecidamente de interesse social, não emplacam? Não faz muito, um grupo de lideranças contábeis do Paraná ouviu dura crítica de um deputado sobre a postura política ambígua e reticente da classe contábil. Segundo ele, os contabilistas, para ter sucesso em seus reclames, precisam ter uma postura vigorosa, clara e, por outro lado, procurar conhecer os meandros do poder. Não se é político apenas em dado momento, mas o tempo todo, em tudo que se faz, disse ele.
De fato, Aristóteles já analisara essa condição do cidadão que vive e interage com a comunidade.
Estamos em pleno processo eleitoral e esta reflexão é oportuna como análise da conjuntura e revisão de postura.
Embora tenhamos sempre procurado colaborar, importa reconhecer que temos vivido demasiado atarefados, divididos, por força das exigências oficiais em torno da vida das empresas. Estamos descobrindo que a mudança de postura começa já pelo modo como exercemos a profissão. A contabilidade está deixando de ser predominantemente fiscal para se tornar gerencial. Acabamos de superar o ciclo do guarda-livros, que vivia completamente absorto na tarefa de fazer registros. Estamos mais presentes na vida das empresas e dos órgãos públicos. Queremos participar mais das decisões sobre a vida das nossas comunidades.
Estamos mudando porque o mercado, as empresas, a sociedade, o processo histórico, pedem mudança, participação, competência, excelência, qualidade.
No entanto, não temos encontrado a menor contrapartida, sensibilidade, na esfera do poder central, para aprovar simples regulamentações decisivas à profissão contábil, nesse seu novo estágio. Creio que as mudanças são irreversíveis. Precisamos ter mais contabilistas participando de eleições; fazendo palestras; escrevendo artigos para jornais… Parece ser a única alternativa para vermos aprovadas nossas propostas que também são do interesse da sociedade.


Mauricio Fernando Cunha Smijtink
Presidente do CRCPR

 
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